PERFORMANCES
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BOI DO SETE (2017)
Experiência fotoperformática realizada no dia 7/7/17 no Parque Lage - RJ
Fotografias de Alessandra Migueis
Figurino e Performance de Marcelo Asth
Cabeça do boi feita por Rafael Turatti
Uma das imagens de referência para a criação da série fotoperformática foi o desenho de Waldeir Brito para a lenda do Rei Dom Sebastião
Desenho/croqui realizado para criação da máscara e da indumentária - primeira imagem como esboço para a fotoperformance. Inspiração de sonho. por Marcelo Asth
"Corta essa língua de trapo,
Língua de boi,
Carne de farrapo.
Teu miolo é o boi,
O interior cortando a língua
Pra poder escutar a dança
Que dentro de si abrasa.
Se boi bumba, saudade balança,
A lua se esconde num véu de fumaça.
Pajelança.
Oi, boi, se enfeita pra cantar a morte
Pra berrar o divino
E o mal desses homens.
Espelho, paetê, fitilho,
Com mais o derradeiro brilho
Do boi que é sacrificado.
Mas o boi cheira a fumaça
E sente que a morte passa,
Que é bonito, é bonito se morrer.
E dança na roda da praça,
Calor, tambor e cachaça
Pra cantar que aqui vem renascer:
Lá vem, lá vem, já veio,
O boi lá do Cruzeiro,
Faiscando sóis do astral,
Bumba boi, boi feiticeiro!"
(Marcelo Asth
Chega mais, meu batalhão!
Guarnece na noite risonha!
Sua língua é cordão de prata!
Gira, ê boi, seu "miolo" sonha!
(Marcelo Asth)
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BOI DO SETE nasceu de um sonho, no sentido de onirismo mesmo, de estar dormindo e produzindo/projetando... sonhei que eu era um boi bumbá de fitas voando. Fiz um desenho naquele dia, fiz um poema aquele dia, pensei em uma performance naquele dia.
Essa performance vem a partir de muitos símbolos, aos quais fui me entregando e intuindo. Mas com em performance tudo está aberto para novas recepções e percepções, aqui apresento o resultado de uma série fotoperformativa que dá espaço para muitas outras camadas da ação no instante em que é realizada, cultuada, ritualizada. Entrego também alguns símbolos e significados, pontes e pontos para construirmos juntos os BOIS DO SETE. Eu tive um sonho, eu era um boi. Já mirei boi
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BOI DO SETE é uma experiência fotoperformática de conexão com a figura do boi e seus significados. Traz em sua testa uma estrela de sete pontas e em seu corpo, fitas coloridas, além de um badalo. Em seu chifre, mais fitas e guizos. Seu rosto é preto como o do boi-bumbá, como o do boi da cara preta, como a cor da universo em seus mistérios e plenitude. Em suas mãos traz um chifre com plantas (uma oferenda à Terra, uma cornucópia) e o tambor-onça (típico das festas do boi, reproduzindo o urro do personagem central). Seu som convida os encantados da floresta para a grande brincadeira! A sua dança é uma homenagem aos folguedos tradicionais brasileiros, às brincadeiras populares, à mitologia brasileira, ao sonho do Norte. Seu giro é magia espalhando boa-aventurança para todos os seres da Terra!
Sobre o boi - significados:
O boi-bumbá é uma dança popular das tradições brasileiras que gira em torno de uma lenda sobre a morte e ressurreição do boi, A festa tem ligações com diversas tradições, africanas, indígenas e europeias, inclusive com festas religiosas católicas, sendo associada fortemente ao período de festas juninas e julinas.
Pelo Brasil ganha diversos nomes, como "boi-calemba", "bumbá", "bumba meu boi", "boi de reis", "boi-surubim", "boi-zumbi", "boi-janeiro", "boi-estrela-do-mar", "mulinha de ouro", folguedo-do-boi", "boi de jacá", "dança do boi", "boi-de-mamão", "boi-de-mourão" e "boizinho".
O boi simboliza bondade, calma e força pacificadora. O boi representa também capacidade de trabalho e sacrifício. O boi é um auxiliar precioso do trabalho humano, e é muito respeitado na Ásia Oriental. O boi é associado à amizade, à doçura de atitude e ao desprendimento.
Nos templos de Xinto (xintoístas), são frequentes as estátuas de bois. Na China antiga, porém, um boi feito de argila representava o frio, que se expulsava na primavera, com o objetivo de favorecer a renovação da natureza; é um emblema tipicamente yin. Na Grécia, o boi é considerado um animal sagrado, e muitas vezes é imolado e usado em sacrifícios rituais consagrados a determinados deuses. O termo "hecatombe" designa um sacrifício de cem bois. É consagrado a certos deuses: Apolo tinha seus bois, que lhe foram roubados por Hermes; e este último só conseguiu fazer-se perdoar pelo seu furto, verdadeiro sacrilégio, ao oferecer a Apolo a lira que inventara, feita de pele e dos nervos de um boi retesados sobre uma carapaça de tartaruga. Dionísio o Areopagita resume nos seguintes termos a simbólica mística do boi: a figura do boi marca a força e a potência, o poder de cavar sulcos intelectuais para receber as fecundas chuvas do céu, as passo que os chifres simbolizam a força conservadora e invencível.
Devido à sua associação frequente aos ritos religiosos de sacrifício, seja como sacrificado ou sacrificador, o boi é também o símbolo do sacerdote. A vaca é vista como a Mãe Terra e é um símbolo de maternidade, fertilidade e é especialmente venerada na Índia, onde desempenha um papel cósmico e divino.
Na iconografia hindu, o búfalo simboliza a divindade da morte. Na umbanda e no candomblé, o búfalo está associado à orixá Oiá/Iansã. No budismo há um texto zen muito conhecido chamado "os dez passos em busca do boi", no qual o boi simboliza a mente e é comparado com nossa própria natureza verdadeira, Os dez passos são: “Começando a buscar o boi”; "Encontrando as pegadas”; "Vislumbrando o boi”; “Agarrando o boi”; “Domando o Boi”; “Cavalgando o boi de volta pra casa”; “Perdido o boi, fica o homem”; "Círculo Vazio: nem homem, nem boi"; "Voltando à fonte"; e "Na cidade com mãos auxiliadoras”.
Com corpo de homem e cabeça de touro, o minotauro é um monstro da mitologia grega para o qual o rei Minos mandou construir um labirinto e lá o encerrou. De acordo com a lenda, o rei mandava alimentar o Minotauro todos os anos com sete rapazes e sete moças. Eles eram trazidos de Atenas e oferecidos ao monstro em forma de tributo. Teseu, rei de Atenas, quis ser um dos rapazes oferecidos ao Minotauro com o intuito de enfrentá-lo e mostrar a sua força matando o monstro. Ele conseguiu matar o Minotauro e regressar à luz, saindo do labirinto, graças à Ariadne, filha do rei Minos, que se apaixonou por Teseu. O Minotauro simboliza um estado psíquico de domínio perverso, um amor culpado, o desejo injusto e indevido, erros e recalque inconscientes. O sacrifício dos jovens representam uma tentativa de adormecer a consciência dos erros, mas no fundo somente faz com que estes se acumulem. A oferta do fio de Ariadne para que Teseu marque a saída do labirinto simboliza ajuda espiritual do amor para vencer o monstro. O mito do Minotauro simboliza o combate contra o recalcamento. Teseu só saiu vitorioso porque usou como armas o amor e a luz.
Sobre a estrela de sete pontas - significados:
A estrela de sete pontas que o BOI DO SETE traz em sua testa simboliza a harmonia do mundo, as sete cores do arco-íris, as sete zonas planetárias, partilhando, em grande parte, sua simbologia com o número 7. Dessa forma, a estrela de sete pontas ou o heptagrama, para os cristãos simboliza os setes dias de criação do mundo, enquanto que para os budistas simbolizam os sete degraus para a evolução ou iluminação. Vale lembrar que para os pagãos, essa estrela representa um símbolo mágico.
Para os egípcios antigos, o heptagrama (conhecida também como "estrela dos elfos") relembrava as sete esferas do além-vida e os sete sábios que a alma encontraria em sua jornada. Na cabala, esse símbolo corresponde à sétima esfera da Árvore da Vida, chamada Netzach, ou Vitória. No cristianismo, o heptagrama é o símbolo da perfeição de Deus. O ocultista britânico Aleister Crowley também usou um heptagrama na sua Marca da Besta, e uma variação dessa estrela no selo da Ordem Astrum Argentum.
Essa estrela de sete pontas pode ter diferentes significados, mas todos são relacionados à ideia de “coisa sagrada”, como nos sete dias da semana, nos sete planetas na tradição antiga, nos sete metais mágicos ou nos sete pilares da sabedoria. O número 7 (sete) representa a totalidade, a perfeição, a consciência, a intuição, a espiritualidade e a vontade. O sete simboliza também conclusão cíclica e renovação. Mas, justamente por representar o fim de um ciclo e o começo de um novo, é um número que traz a ansiedade pelo desconhecido. Tem uma grande importância simbólica para o mundo cristão e para muitas outras mitologias. Sete são os dias da semana, os graus da perfeição, as esferas celestes, as pétalas de rosas e os ramos da árvore cósmica.
Muitos desses símbolos evocam outros símbolos que também remetem ao número sete. A rosa de sete pétalas, por exemplo, evoca os sete céus, as setes hierarquias angélicas, além de todos os conjuntos perfeitos.
Segundo a Bíblia, Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo, fazendo dele um dia santo. Por isso, o sabbat, o sétimo dia, não é um dia que está exterior à criação do mundo. Na verdade, ele é o dia de coroamento da criação, o dia em que o ciclo se encerra em sua perfeição.
O número 7 designa também a totalidade das ordens planetárias, as moradas celestes, a totalidade da ordem moral, das energias e principalmente da ordem espiritual. Tem o significado de ciclo completo e de perfeição dinâmica. Cada período lunar dura sete dias, remetendo também para uma mudança depois de um ciclo concluído e de uma renovação positiva.
De acordo com a Numerologia, o número 7 indica a busca pela aprendizagem e pela perfeição. O seu bloqueio pode levar as pessoas influenciadas por ele a apresentar um comportamento bastante discreto.
Segundo o grego Hipócrates, "o número sete, pelas suas virtudes escondidas, mantém no ser todas as coisas, dá vida e movimento e influencia até os seres celestes".
O número 7 é também um regulador de vibrações, como se pode notar nas sete cores do arco-íris e nas sete notas da gama diatônica.
A tradição hindu atribui ao Sol sete raios, sendo que seis correspondem às direções do espaço e o sétimo corresponde ao centro. Ou seja, o número é a síntese, assim como no arco-íris a sétima cor é o branco, que também é a síntese das demais cores.
Universalmente, o 7 é o número da dinâmica e do movimento. Assim, é também a chave do Apocalipse (sete igrejas, sete estrelas, sete trombetas, sete espíritos de deus, sete trovões, sete cabeças).
O número 7 é muito frequentemente utilizado na Bíblia. Ele é mencionado 77 vezes no Velho Testamento e é muitas vezes associado ao diabo, sendo para muitos um número de azar.
Mas esta relação se criou devido ao fato de que no imaginário cristão o diabo se esforça muito para imitar Deus. Da mesma forma também a besta do Apocalipse possui sete cabeças.
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"Fotoperformance" ou "fotografia performada" é um conceito da arte contemporânea explorado cada vez mais por artistas do ramo da performance. Essa série também pode ser vista como um ensaio fotográfico. Fixamos os conceitos a partir de nossas necessidades e compreensões do tema.
BOI DO SETE é uma experimentação através da fotografia por captar um ensaio de movimentos, cores, formas, expressões, em um suporte da grafia da luz. Porém, a fotoperformance ou fotografia performada surge como conceito a partir da necessidade de se pensar o registro em performance.
Segundo Philip Auslander, existem dois modos de registro em performance: o documental e o teatral. O documental seria quando é realizado um registro do que foi uma performance feita ao vivo para pessoas, uma forma de passar para os não presentes e também "eternizar" o que foi uma ação efêmera, contando com a imagem do que poderia ser apenas um relato oral.
A categoria de registro teatral aborda a performance que é feita para reverberar no suporte fotográfico. É quando se faz uma performance para a câmera, para seu efeito depois da ação, pensando no resultado dela - também pensando no processo enquanto se faz a performance para a câmera. No caso, BOI DO SETE não foi feita para um público, foi feita para a fotografia. Se no local existe uma pessoa ou outra que passa, ainda assim minha intenção não é fazer para essas pessoas, mas apenas ter aquilo que faço registrado.
Outra questão da fotoperformance é que, como a performance, ela simboliza, desloca e rompe com a lógica do sentido, realiza-se na presença, cria narrativas, traz o estranhamento, irrompe do cotidiano, traduz questões e problemáticas, inventa seres, mexe com o imaginário de quem a recebe.
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referências:
Livro A FARRA DO BOI: DO SACRIFÍCIO DO TOURO NA ANTIGUIDADE À FARRA DO BOI CATARINENSE (Grupo de Estudos C.G. JUNG - Coordenação de Doutora Nise da Silveira) - 1989 - Editora Numen / Espaço Cultural
Livro DICIONÁRIO DE SÍMBOLOS - MITOS, SONHOS, COSTUMES, GESTOS, FORMAS, FIGURAS, CORES, NÚMEROS - de Jean Chavalier e Alain Gheerbrant - José Olympio Editora
https://performatus.net/traducoes/perf-doc-perf/ - Fotografia performada (Philip Auslander)
http://mundoestranho.abril.com.br/curiosidades/qual-a-simbologia-dos-diferentes-tipos-de-estrela/
http://etermagia.blogspot.com.br/2015/06/heptagrama.html